Ferreira Gullar
Há um tema que é recorrente quando se estuda por exemplo Inteligência Artificial, Linguagem ou Filosofia, é a Representação das coisas. Há um trecho de um poema do Poema Sujo – um fragmento: “Velocidades” do poeta maranhense Ferreira Gullar que não só exemplifica muito bem as dificuldades de se representar e compreender as coisas e o conhecimento mas também nos mostra que isso é algo que aflinge desde o Poeta até o Computólogo.
O homem está na cidade
como uma coisa está em outra
e a cidade está no homem
que está em outra cidade
mas variados são os modos
como uma coisa
está em outra coisa:
o homem, por exemplo, não está na cidade
como uma árvore está
em qualquer outra
nem como uma árvore
está em qualquer uma de suas folhas
(mesmo rolando longe dela)
O homem não está na cidade
como uma árvore está num livro
quando um vento ali a folheia
a cidade está no homem
mas não da mesma maneira
que um pássaro está numa árvore
não da mesma maneira que um pássaro
(a imagem dele)
está/va na água
e nem da mesma maneira
que o susto do pássaro
está no pássaro que eu escrevo
a cidade está no homem
quase como a árvore voa
no pássaro que a deixa
cada coisa está em outra
de sua própria maneira
e de maneira distinta
de como está em si mesma
a cidade não está no homem
do mesmo modo que em sua
quitandas praças e ruas